Quando eu tinha 10 anos, me interessei por basquete. Sempre fui fã de esportes, desde muito pequeno. Já joguei de tudo um pouco. Talvez eu seja predisposto geneticamente a praticar esportes, pois tenho muita facilidade e normalmente alguma habilidade nata para eles.
O fato é que comecei na escolinha, na 2a série e foi lá que comecei a ganhar as minhas primeiras medalhas. Eu era o chamado "rato de treino". Treinar pra mim era o mesmo que ir pro cinema. Eu realmente me divertia e ao mesmo tempo levava muito a sério o que o professor orientava e procurava fazer da melhor maneira possível.
Ficava puto quando era impedido de treinar por qualquer motivo que fosse. Aniversário chegando, o pedido era óbvio. Uma bola de basquete. Treinava o tempo todo, até em casa, com aquela tabela comprada na loja de brinquedos que era pendurada de improviso na parede. Treinava controle de bola, arremoessos, dribles, passes tabelando com a parede... E talvez isso tenha me ensinado, de forma subconsciente, que só a prática exaustiva leva a perfeição. Não adianta nascer com talento apenas, é preciso suar a camisa.
E isso eu fazia, e como fazia. Com essa idade ainda não jogava campeonatos, isso começou quando mudei de cidade e fui treinar na nova escola. Como eu era muito tímido, normalmente teria dificuldades para me enturmar e fazer novos amigos, mas até nisso o esporte me ajudou. Como eu era "o bom" do time, óbvio que todos me queriam jogando em seus times e sempre tinha vários colegas conversando comigo, sobre qualquer assunto, e claro, sobre basquete também. Eu era quem tinha a moral com o treinador, com coisas que parecem bobagem, mas que no fundo fazem um garoto de 11 anos ser respeitado pelos amigos. O professor me dava a chave da sala de equipamentos, para que eu fosse buscar o material de treino. Parece bobagem, mas isso faz diferença. O treinador confiava em mim.
Passamos alguns meses treinando, realizando coletivos, e eu naturalmente ia me destacando entre os outros, junto com um colega que acabou tornando-se um grande amigo no curto período que passei nessa escola (2 anos). Éramos parceiros de treino, e sempre jogávamos no mesmo time. Ele como armador, e eu como ala. Não tinha pra ninguém, se a gente jogasse no mesmo time, era lavada na certa.
Até que chegou o dia em que eu iria disputar o meu primeiro campeonato. Lembro bem que esse foi o único jogo que meus pais foram assistir até hoje. Sempre tive vontade que eles tivessem ido assistir a mais jogos. Onde alguns sentiriam pressão, pela presença da família, eu me sentia confortável, praticamente protegido de qualquer adversidade.
O time era o temido Estadual, o time de um colégio público de uma escola da cidade. Os meninos eram bem maiores, muitos por serem repetentes (eu era 5a série na época). Mas ainda na idade de jogar um campeonato infantil (imagino que sim!). Bola ao ar, a posse é nossa e vamos para o primeiro ataque. E aí já percebi a grande responsabilidade que eu teria naquela tarde. Todos os meus companheiros com olhares meio assustados, a pequena torcida gritando, e os adversários bem maiores e mais fortes tentando nos intimidar.
Eu não pensei duas vezes. Assim que chegamos ao ataque e eu recebi a bola em minhas mãos, fiz apenas o que aprendi. Bati no chão, dei dois passos para a frente. O marcador veio em minha direção. Uma finta rápida pra esquerda, um jump e chuá. Dois pontos para nós. Um sorriso tímido saindo no meu rosto.
A realidade, porém, foi chegando com o desenrolar do jogo. O time deles era de fato melhor e mais preparado, e o time estadual conseguia se manter a frente, apesar do placar apertado. Perto do final do jogo, o placar era algo próximo de 17x13 para eles. Sim, em jogos de times infantis daquela época, um placar como esse era algo astronômico diante do referencial de um menino de 11 anos. Tivemos duas posses de bola para encostar e empatar o jogo, mas foram desperdiçadas. Nenhuma das duas passou pela minhas mãos, e eu assistia atormentado imaginando que o jogo estava escapando. Em dois contra ataques o time adversário fez duas cestas e deu números finais ao jogo. Placar de 21x13 para a escola estadual, que ensinou uma lição aos mauricinhos da escola particular.
Não havia nenhum clima de animosidade entre os dois times (inclusive porque se fossemos sair na porrada, a surra seria ainda maior). Houve a tradicional confraternização de fim de jogo, com todos se abraçando e apertando as mãos, e recebi alguns elogios dos adversários pelo jogo que tinha feito. Dos 13 pontos que o meu time tinha conseguido converter, eu havia sido responsável por 9.
Quando caí em mim, a derrota amargou minha boca e eu desabei a chorar. Um choro bastante sincero, dolorido, de quem havia feito o melhor que podia e mesmo assim não havia vencido. FOo a primeira grande lição que aprendi com os esportes. Num jogo coletivo, raramente as coisas vão depender de um só atleta. Se vencer, vence o time. Perdendo, todos são responsáveis. Pouco tempo depois, os parabéns da família por ter jogado bem serviam de consolo.
No dia seguinte, na escola, o tratamento era de respeito por alguns colegas, mas os palhaços, aqueles que nunca jogam nada, não participam, ficam em recuperação e só enchem o saco dos outros, estavam me zoando por ter chorado. É fato. Chorar na frente dos colegas na escola é pecado capital para um guri de 11 anos.
E aí é que está a diferença. Nem eu mesmo sabia disso quando tinha 11 anos, mas o fato é que a diferença entre mim e os que me zoavam por ter chorado de forma sincera pela derrota, é que eu era competitivo. Eu queria mais do que só participar. Eu queria ser lembrado pelos meus colegas, pelo treinador, pela minha família. Só fazer parte do time não era suficiente. Eu queria ganhar. Queria ser o melhor, o que treinava mais, o que fazia mais cestas.
Hoje, 20 anos depois, aprendi que não preciso ser tão competitivo em tudo pra ter sucesso ou aprovação dos meus amigos, do meu amor, da minha família. Mas se me dizem para ser eu mesmo, não posso ser diferente. Competição está no meu sangue e só quem sabe como é doce o sabor da vitória consegue entender a necessidade de entrar numa disputa... e vencer. Seja ela um jogo de basquete, aos 11 anos, ou um imagem & ação aos 30.
Ficava puto quando era impedido de treinar por qualquer motivo que fosse. Aniversário chegando, o pedido era óbvio. Uma bola de basquete. Treinava o tempo todo, até em casa, com aquela tabela comprada na loja de brinquedos que era pendurada de improviso na parede. Treinava controle de bola, arremoessos, dribles, passes tabelando com a parede... E talvez isso tenha me ensinado, de forma subconsciente, que só a prática exaustiva leva a perfeição. Não adianta nascer com talento apenas, é preciso suar a camisa.
E isso eu fazia, e como fazia. Com essa idade ainda não jogava campeonatos, isso começou quando mudei de cidade e fui treinar na nova escola. Como eu era muito tímido, normalmente teria dificuldades para me enturmar e fazer novos amigos, mas até nisso o esporte me ajudou. Como eu era "o bom" do time, óbvio que todos me queriam jogando em seus times e sempre tinha vários colegas conversando comigo, sobre qualquer assunto, e claro, sobre basquete também. Eu era quem tinha a moral com o treinador, com coisas que parecem bobagem, mas que no fundo fazem um garoto de 11 anos ser respeitado pelos amigos. O professor me dava a chave da sala de equipamentos, para que eu fosse buscar o material de treino. Parece bobagem, mas isso faz diferença. O treinador confiava em mim.
Passamos alguns meses treinando, realizando coletivos, e eu naturalmente ia me destacando entre os outros, junto com um colega que acabou tornando-se um grande amigo no curto período que passei nessa escola (2 anos). Éramos parceiros de treino, e sempre jogávamos no mesmo time. Ele como armador, e eu como ala. Não tinha pra ninguém, se a gente jogasse no mesmo time, era lavada na certa.
Até que chegou o dia em que eu iria disputar o meu primeiro campeonato. Lembro bem que esse foi o único jogo que meus pais foram assistir até hoje. Sempre tive vontade que eles tivessem ido assistir a mais jogos. Onde alguns sentiriam pressão, pela presença da família, eu me sentia confortável, praticamente protegido de qualquer adversidade.
O time era o temido Estadual, o time de um colégio público de uma escola da cidade. Os meninos eram bem maiores, muitos por serem repetentes (eu era 5a série na época). Mas ainda na idade de jogar um campeonato infantil (imagino que sim!). Bola ao ar, a posse é nossa e vamos para o primeiro ataque. E aí já percebi a grande responsabilidade que eu teria naquela tarde. Todos os meus companheiros com olhares meio assustados, a pequena torcida gritando, e os adversários bem maiores e mais fortes tentando nos intimidar.
Eu não pensei duas vezes. Assim que chegamos ao ataque e eu recebi a bola em minhas mãos, fiz apenas o que aprendi. Bati no chão, dei dois passos para a frente. O marcador veio em minha direção. Uma finta rápida pra esquerda, um jump e chuá. Dois pontos para nós. Um sorriso tímido saindo no meu rosto.
A realidade, porém, foi chegando com o desenrolar do jogo. O time deles era de fato melhor e mais preparado, e o time estadual conseguia se manter a frente, apesar do placar apertado. Perto do final do jogo, o placar era algo próximo de 17x13 para eles. Sim, em jogos de times infantis daquela época, um placar como esse era algo astronômico diante do referencial de um menino de 11 anos. Tivemos duas posses de bola para encostar e empatar o jogo, mas foram desperdiçadas. Nenhuma das duas passou pela minhas mãos, e eu assistia atormentado imaginando que o jogo estava escapando. Em dois contra ataques o time adversário fez duas cestas e deu números finais ao jogo. Placar de 21x13 para a escola estadual, que ensinou uma lição aos mauricinhos da escola particular.
Não havia nenhum clima de animosidade entre os dois times (inclusive porque se fossemos sair na porrada, a surra seria ainda maior). Houve a tradicional confraternização de fim de jogo, com todos se abraçando e apertando as mãos, e recebi alguns elogios dos adversários pelo jogo que tinha feito. Dos 13 pontos que o meu time tinha conseguido converter, eu havia sido responsável por 9.
Quando caí em mim, a derrota amargou minha boca e eu desabei a chorar. Um choro bastante sincero, dolorido, de quem havia feito o melhor que podia e mesmo assim não havia vencido. FOo a primeira grande lição que aprendi com os esportes. Num jogo coletivo, raramente as coisas vão depender de um só atleta. Se vencer, vence o time. Perdendo, todos são responsáveis. Pouco tempo depois, os parabéns da família por ter jogado bem serviam de consolo.
No dia seguinte, na escola, o tratamento era de respeito por alguns colegas, mas os palhaços, aqueles que nunca jogam nada, não participam, ficam em recuperação e só enchem o saco dos outros, estavam me zoando por ter chorado. É fato. Chorar na frente dos colegas na escola é pecado capital para um guri de 11 anos.
E aí é que está a diferença. Nem eu mesmo sabia disso quando tinha 11 anos, mas o fato é que a diferença entre mim e os que me zoavam por ter chorado de forma sincera pela derrota, é que eu era competitivo. Eu queria mais do que só participar. Eu queria ser lembrado pelos meus colegas, pelo treinador, pela minha família. Só fazer parte do time não era suficiente. Eu queria ganhar. Queria ser o melhor, o que treinava mais, o que fazia mais cestas.
Hoje, 20 anos depois, aprendi que não preciso ser tão competitivo em tudo pra ter sucesso ou aprovação dos meus amigos, do meu amor, da minha família. Mas se me dizem para ser eu mesmo, não posso ser diferente. Competição está no meu sangue e só quem sabe como é doce o sabor da vitória consegue entender a necessidade de entrar numa disputa... e vencer. Seja ela um jogo de basquete, aos 11 anos, ou um imagem & ação aos 30.
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